sábado, 27 de novembro de 2010

E D U C A Ç Ã O C R I S T Ã

E  D  U  C  A  Ç  à O    C  R  I  S  T  Ã

I.  CONCEITOS
1.    EDUCAÇÃO NO SENTIDO GERAL
a. Ato ou efeito de educar (-se).
b. Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social.
c. A educação é um conceito genérico, mais amplo, que supõe o desenvolvimento       integral do ser humano, quer seja da sua capacidade física, intelectual e moral, visando não só a formação de habilidades, mas também do caráter e personalidade social.
Vamos examinar também a definição da palavra EDUCAR, segundo o dicionário cristão Webster 1828. Segundo Webster educar é toda a série de instruções e disciplinas com o objetivo de:
1. Iluminar o entendimento;
2. Corrigir o temperamento;
3. Formar as maneiras e hábitos da juventude;
4. E prepará-los para serem úteis no futuro, cumprindo o seu chamado na vida.

2.    EDUCAÇÃO CRISTÃ. O que é?
Algumas definições de Educação Cristã:
 - Educação Cristã é um processo de educação e aprendizado sustentado pelo Espírito Santo e baseado nas Escrituras. Procura guiar indivíduos a todos os níveis de crescimento através de métodos do ensino em direção ao conhecimento e vivência do plano e propósito divinos mediante Cristo em todos os aspectos da vida.
 - A Educação Cristã é o processo Cristocêntrico, baseado na Bíblia e relacionado com o estudante, para comunicar a Palavra de Deus através do poder do Espírito Santo com o propósito de levar outros a Cristo e edificá-los em Cristo.
 - Educação Cristã é um processo que ocorre tanto informalmente como através de uma série de eventos planejada, sistemática e contínua, objetivando levar o crente a conformar-se à imagem de Cristo (maturidade), tendo como base autoritativa as Escrituras Sagradas e sustentada pelo Espírito Santo, visando a glória de Deus.
Desdobrando esta última definição temos sete distintivos teológicos importantes:
2.1.        Educação Cristã é um processo
      Devemos ver a educação cristã como um processo de desenvolvimento do ser humano. Por “ processo” entendemos uma ação progressiva que ocorre através de uma série de atos e eventos que produzem mudanças, e não importa se são rápidas ou lentas, desde que conduza a um progresso, a uma melhora.

2.2. Educação Cristã ocorre informalmente (Piedade pessoal do educador)

Educação informal é aquela realizada não intencionalmente (ou, pelo menos, sem a intenção de educar). Freqüentemente, o exemplo de um líder cristão é mais educacional do que os conteúdos que ele ensina, pois seus alunos podem aprender mais conteúdos valiosos em decorrência da observação de suas atitudes e de seu comportamento do que em conseqüência de seu ensino.  
2.3.  Educação Cristã é um processo planejado, sistemático e contínuo
      A educação formal é aquela realizada e organizada com o objetivo de educar. Exige-se um planejamento de temas, com horários determinados e uma série de eventos e atividades de ensino elaboradas sistematicamente com a intenção clara de educar. Os alunos sabem exatamente quando a educação começa e quando termina.
Muitas igrejas possuem um departamento educacional interno denominado de Comissão de Educação Cristã ou Religiosa. Seu objetivo é formular um programa unificado de educação, onde objetivos são fixados e uma série de esforços são programados e organizados para a eficácia do ensino. A Educação sistemática e contínua exige, portanto, um bom programa de educação cristã, e este normalmente apresenta os seguintes aspectos:
a) Um estudo cuidadoso das necessidades da igreja local, quais os pontos fortes e fracos, qual área necessita de um investimento mais emergente;
b) O conteúdo bíblico a ser estudado é adequado às atuais necessidades. Pois não é suficiente estudar a Bíblia, mas que o tema adotado seja relevante para a vida da igreja;
c) Tem objetivos claramente fixados, ou seja, sabe-se onde pretende chegar;
d) Tem um programa de recrutamento, treinamento e capacitação de líderes e professores;
2.4. Educação Cristã tem como objetivo levar o crente á maturidade
      Paulo em Cl 1:28 diz: “ o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo”.
Note bem que Paulo diz que ensinava com uma finalidade: “apresentar todo homem perfeito em Cristo”. Obviamente que perfeito aqui não significa ausência de pecados, mas maturidade espiritual. O que queremos dizer por maturidade cristã é o processo de santificação, o caminho progressivo para a conformidade à imagem de Cristo no crente.
2.5. Educação Cristã deve se fundamentar nas Escrituras Sagradas
     Calvino dizia que para alguém chegar a Deus, o Criador, é necessário que tenha a Escritura por guia e mestra. O verdadeiro conhecimento de Deus está na Bíblia. Isto porque, a Escritura é a única regra inerrante de fé e prática da vida da igreja.
A Confissão de Fé de Westminster declara a autoridade da Escritura:
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a palavra de Deus. (Ref. II Tim. 3:16; I João 5:9, I Tess. 2:13.) [19] 
Uma educação cristã reformada prima pela relevância e indispensabilidade da Palavra de Deus. Em dias confusos como os nossos, temos que nos voltar para o Sola Scriptura e resgatar nossa confiança no seu ensino, a única que mediante o seu poder é capaz de transformar vidas.

2.6. Educação Cristã é sustentada pelo Espírito Santo

Falando da inspiração das Escrituras, Pedro afirma que "Homens santos falaram ao serem movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21). Assim, cremos que as Escrituras são o produto do Espírito Santo, que não apenas no-las dá, mas também nos capacita a entendê-las, iluminando as nossas mentes e aplicando a verdade de Deus no coração da Igreja. (2 Tm 3.15-17; cf. 1 Tm 4.13)
Desta forma, o educador cristão deve insistir que a iluminação do Espírito Santo é necessária na interpretação, compreensão e aplicação das Escrituras.
2.7. Educação Cristã visa a Glória de Deus.
Quais sãos os objetivos finais do processo de educação cristã? Por que nos gastamos tempo, esforços e energia no processo educacional dentro da igreja?
 O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente”. (O Catecismo Maior de Westminster). Existem muitas passagens bíblicas que sustentam esta proposição. [27] Se concordarmos que este é nosso objetivo último na educação cristã, então isso irá mudar a forma como ensinamos as Escrituras. Iremos ensinar não apenas para que os membros em nossas igrejas aprendam o conteúdo bíblico, mas também para que eles venham a ter uma relação com o Autor da Bíblia. Nós não iremos apenas ensinar para que aprendam mais sobre Deus, mas para crescerem em sua relação com Deus.
3. O Significado Bíblico de Ensino e Aprendizagem
Deuteronômio 6:4-9 :
[4] Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR.
[5] Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda atua força.
[6] Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;
[7] tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.
[8] Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.
[9] E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.
Podemos observar que em primeiro lugar a Bíblia nos diz para reconhecermos Deus como o único Senhor, e adorá-lo com todas as forças do espírito, alma (mente) e corpo. Como uma atitude seguinte segue-se a obediência a este Senhor, guardando a Sua Palavra em nosso coração (v.6). Estas "palavras que hoje te ordeno" que nos versículos anteriores incluíam os dez mandamentos, e a aliança de Deus com o homem, deveram primeiramente estar dentro dos corações dos pais, para que então pudessem ser ministradas aos filhos. Não se pode dar algo que não se tenha recebido primeiro, e tudo que é bom vem do Pai da luzes. Estas palavras deveriam ser inculcadas aos filhos, assentado em casa, andando, deitando, levantando. Inculcar nos dicionários da língua portuguesa significa repetir muitas vezes para imprimir no espírito (Aurélio, Michaelis). A palavra hebraica traduzida aqui por inculcar (ou ensinar, intimar) é LAMAD, e é uma palavra de grande abrangência, e representa muito bem o processo de ensino e aprendizagem que Deus estabeleceu para os país e filhos.
Lamad, traduzida por inculcar, pode ser definida como:
1. "Cortar" a mente; é a idéia de uma navalha afiada formando um canal (sulco) na mente e produzindo por meio desta incisão um padrão de pensamento.
2. Formar um estilo de vida, ou uma maneira de viver.
Temos aqui, portanto dois aspectos: o aspecto interno, relacionado com o ensinar, que é o "cortar", marcar, criar um caminho que produz padrões e estruturas de pensamento, e o aspecto externo, a conseqüência disto, que nos fala da aprendizagem, que é um estilo de vida, ou uma maneira de viver.

II. Que objetivos educacionais a Educação Cristã deve procurar DESENVOLVER?

     Formulamos nossos objetivos em termos comportamentais considerando a já conhecida tríade expressa nos três aspectos humanos: conhecer- ser- fazer.

1) Conhecer:
Este aspecto intelectual, se refere a como as pessoas reconhecem as coisas e pensam sobre elas. Jesus disse: “ Amarás o Senhor , teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento . ..”. (Mt 22:37)
A Bíblia deixa bem explícito que há uma relação direta entre como pensamos e como agimos. Paulo descreve os inimigos da cruz de Cristo como aqueles que “ só se preocupam com as coisas terrenas ” (Fl 3:19), em oposição aos crentes, os quais devem pensar nas coisas lá do alto”, e não nas que são daqui da terra”. (Cl 3:2)
Podemos ver também esta relação feita pelo apóstolo, em Rm 12:2: “ E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente , para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
Observe bem a relação feita por Paulo. Escreveu ele: Renove a mente, pois ela moldará o comportamento, fazendo-o experimentar a vontade de Deus. Portanto, se a maturidade cristã é moldada pela maneira como pensamos, deve ser um de nossos objetivos educacionais levar nossos ouvintes a conhecerem corretamente a Deus e a maneira como ele quer que nos comportemos.
Precisamos trabalhar para o crescimento intelectual (cognitivo) de nossos alunos. Precisamos ensiná-los a pensar teologicamente, conhecer as verdades bíblicas e refletir nos conceitos bíblicos e teológicos.

2) Fazer:
É tarefa da Educação Cristã ajudar as pessoas a pensarem corretamente sobre Deus, contudo, não queremos que nossos ouvintes, alunos ou nossas ovelhas tenham uma fé meramente intelectual. Fazendo menção de Lucas 6:46 onde Jesus disse : “Por que me chamais Senhor, Senhor, se não fazeis o que vos mando?” Observe, que Jesus critica uma fé que se limita ao aspecto cognitivo.
A teologia, ou seja, aquilo que conhecemos a respeito de Deus não pode estar divorciado das nossas experiências de vida. Não é suficiente conhecer o conteúdo da verdade, precisamos aplicar este conteúdo em nosso dia a dia. Jesus em João 13:17 afirmou: “Se sabeis (conhecer) estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes (fazer)”. Saber e fazer, um binômio inseparável.
Esta é uma excelência educacional que devemos almejar alcançar. Devemos ter como objetivo promover uma educação que leve ao aprendizado prático da verdade conhecida.

3) Ser:
Afirmamos que o conhecer não pode estar divorciado do fazer, senão, o saber se transforma numa ortodoxia morta. Mas é verdade também que o fazer sem o conhecer pode se transformar numa mera religiosidade vazia, pois sabemos ser possível fazer a coisa certa sem ter qualquer relacionamento com Deus. Daí a necessidade de uma terceira excelência a ser buscada.
Para uma educação cristã eficaz é imprescindível educar o aluno a ser. Nosso desejo e desafio é conduzir as pessoas à maturidade cristã, e esta é produto de uma experiência prática que tem como conteúdo a Palavra de Deus. Contudo, o fazer não deve ser uma mera repetição do conhecimento adquirido, mas sim, fruto de uma transformação do coração. Faço (fazer), não apenas porque sei (conhecer), mas porque sou (ser) assim.
Mais uma vez o texto de Mt 22:37 nos é útil: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração (ser), de toda a tua alma/força (fazer) e de todo a tua mente (conhecimento)”.
III. Os fundamentos da educação cristã
A educação para ser cristã deve estar fundamentada nos seguintes princípios:
1 – No ensino da Bíblia. Há necessidade de que a educação cristã resgate a Bíblia dentro das Igrejas, haja vista que, em muitas situações ela se tornou secundária, como aconteceu com o povo de Israel antes do reinado de Josias. Ao falar do ensino da Bíblia devemos nos conscientizar que não ensinamos qualquer assunto, mas a Palavra de Deus, daí a necessidade de repensarmos os nossos métodos de ensino no processo ensino-aprendizagem na sala de aula na Escola Dominical, por exemplo, conforme as palavras de Paulo: “aquele que ensina, esmere-se em fazê-lo”.
2 – Na transformação da conduta. Há que se questionar a educação que não transforma. Uma das finalidades da educação cristã deve ser a mudança do comportamento. Quantas coisas há para serem mudadas em nossa vida e em nosso viver diário. Esta questão está diretamente ligada à prática das Escrituras, pois, se a praticarmos certamente teremos nossa conduta transformada cotidianamente.
3 – Na piedade. A finalidade última da educação cristã é o Criador. João Amós Comenius, Pai da Pedagogia Moderna, contribuiu para o conceito de educação cristã ao declarar que a finalidade da educação é fazer do homem paraíso de delícias para o Criador. O próprio Comenius conceituou piedade como sendo o “coração impregnado de Deus”.
Sendo assim, vamos pensar a educação cristã em termos de que sua finalidade última é nos aproximar do Criador.

IV. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO CRISTà
      Histórico da Educação Cristã e a EBD
1. Cristianismo como processo educativo
     O apóstolo Pedro afirmou que os cristãos deveriam santificar a Cristo, como Senhor, no intimo de sues corações, mas também deveriam estar preparados para responder a todo aquele que pedisse razão da esperança ou fé que animava estes mesmos cristãos. (I Pe. 3.15). Para os apóstolos e também para os apologetas (defensores da fé) nos primeiros séculos, não poderia haver separação entre fé e razão, assim como não deveria existir nenhuma ruptura em relação à expressão da fé no espaço publico ou espaço privado. Ter fé, viver com base na fé e ser capaz de explicar as razões dessa mesma fé eram atitudes esperadas de todo cristão. Por isso, todos deveriam ser ensinados solidamente sobre os rudimentos da fé cristã. Cristianismo e educação eram indissociáveis.
     Qualquer pesquisador da História da Educação, se desejar agir honestamente, perceberá a impossibilidade se separar a História da Educação Ocidental da História da Educação Cristã. Em nossos dias, os responsáveis por muitos dos avanços na área da Ciência da Educação podem até pretender que suas formulações sejam de caráter puramente científico, desconsiderando pressupostos de qualquer natureza religiosa. Entretanto, os alicerces sobre os quais se tem sustentado o edifício da Pedagogia moderna, ergueram-se graças ao zelo de estudiosos e educadores cristãos, preocupados em encontrar a melhor maneira de educar os seres humanos para manifestarem o caráter de Deus em suas vidas.
     A maneira como o movimento cristão foi apresentado pelo próprio Senhor Jesus refere-se a uma forma de vida e de prática eminentemente educativa. Não se trata de uma nova forma de culto, não é, de forma alguma, uma orientação sobre rituais religiosos. Todo o tempo, Jesus fala sobre um estilo de vida transformado e transformador, que deve ser vivido e ensinado. (Mateus 5.17 e 19).
     Na igreja primitiva, a pregação do Evangelho era seguida por um ensino constante, conforme relatos dos Atos dos Apóstolos e das cartas pastorais. Em Atos 11, lê-se que a conversão de um grande número de gregos na cidade de Antioquia exige providencias e a igreja de Jerusalém envia Barnabé para ensinar os novos conversos. Barnabé, por sua vez, percebe as dificuldades envolvidas em grandiosa tarefa e vai a Tarso buscar reforço, trazendo Paulo para auxiliá-lo. Paulo permanece em Antioquia durante um ano, ensinando uma numerosa multidão.
     Mas não são apenas os relatos bíblicos que mostram a historicidade da prática educativa cristã. Já nos primeiros séculos da nossa era, inúmeros cristãos destacam-se na produção escrita sobre a prática educativa de Jesus e sobre a forma como os cristãos devem educar as futuras gerações. Justiniano Mártir, Orígenes, Clemente de Alexandria e      
     Agostinho são exemplos disso. Autores como Giles (1987) Manacorda (1983) e Luzuriaga (1987), apresentam inúmeros exemplos de como os apolegetas cristãos contribuíram para o desenvolvimento do processo educativo, citando nomes como Justinaino, Orígenes, Clemente de Alexandria, Agostinho, Tomás de Aquino, Hugo de San Victor, entre outros.
     Agostinho, por exemplo, elaborou uma Teologia da educação cristã que também poderia ser considerada uma Psicologia da educação. Segundo Agostinho, tanto os seres humanos quanto os animais, são seres vivos que possuem sensações e a possibilidade de armazenar algum tipo de conhecimento por meio de imagens e recordações. Apenas o ser humano, entretanto, possui a capacidade de buscar a sabedoria, que é diferente do conhecimento. A verdadeira sabedoria, para Agostinho, tem como pressuposto a existência de Deus e a incompletude do ser humano. Para ele, o ponto de partida para a sabedoria (o verdadeiro conhecimento) é um desejo de conhecer a Deus e este sentimento está presente apenas para aquele se reconhece a real condição humana (GILES, 1987, p. 61) e a consequente dependência do ser humano em relação a Deus.
     Por volta do quinto século da nossa era, quando o Cristianismo deixou de ser um movimento subversivo e marginalizado dentro do Império Romano, passando ao status de religião oficial, as bases da fé e da vida cristã foram gradativamente sendo abandonadas.      
     A educação que anteriormente era considerada de extrema relevância dentro das comunidades cristãs, passou a ser percebida como perigosa para os interesses políticos e eclesiásticos. Os textos sagrados foram proibidos. Grande parte do próprio clero nem sequer sabia ler (conf. GUILES, 1987). As Escrituras Sagradas não podiam ser traduzidas para a língua do povo porque cabia à alta hierarquia clerical a interpretação da mesma.   
     Embora historiadores pouco familiarizados com assuntos teológicos considerem a idade média como um período teocêntrico, á mais conveniente chamá-lo de clerocêntrico. Não era a Teologia cristã que reinava e sim uma forma arbitrária de interpretação, realizada pelo alto clero, que se distanciou completamente dos ensinos das Escrituras.

     A Reforma Protestante do século XVI tem como marco inicial a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, escritas num simples pedaço de papel e pregadas na porta da Igreja de Wittemberg, na Alemanha, no dia 31 de outubro de 1517. Com esta atitude, Lutero apenas desejava chamar a atenção do clero, do Imperador e das autoridades em geral para os abusos crescentes e demonstrar que não havia sustentação bíblica para inúmeras práticas realizadas, supostamente, em nome de Deus, de Jesus e dos apóstolos. Rapidamente as teses de Lutero foram traduzidas por seus seguidores e tornaram-se um dos documentos mais lidos na história do mundo ocidental Entretanto, Lutero percebeu que a educação do povo não interessava àqueles que pretendiam manter o povo distante das luzes esclarecedores, oriundas da Palavra de Deus.

Martinho Lutero mobilizou grandes multidões de pessoas simples e também da nobreza e da burguesia emergente. Príncipes, teólogos e educadores mobilizaram esforços no sentido de fazer prosperar os ideais de um cristianismo reformado.
     Assim, é a Reforma Protestante e não o iluminismo que rompe com a dominação imposta pela ignorância. É a Reforma quem primeiro advoga a necessidade urgente de investir na educação de todos como a única forma de conduzir o povo ao conhecimento do Evangelho e livrá-lo da dominação de um pseudo-cristianismo dissociado dos ensinos de Cristo e dos apóstolos.
     João Calvino, nascido em 1509, na França, inspirado pelas idéias de Martinho Lutero, voltou-se para as Escrituras Sagradas, extraindo delas os fundamentos para sua cosmovisão, o que resultou na elaboração do grande Tratado da Religião Cristã. Seus escritos e ações resultaram na criação de escolas, centros de pesquisa, cidades e mesmo na formação de uma nação, fundamentadas na compreensão cristã do mundo.

Mcgrath, um dos pesquisadores que tem se dedicado ao estudo da vida e obra de Calvino, afirma ser impossível compreender, ao menos em parte, a história religiosa, política, social e econômica da Europa Ocidental e da América do Norte, nos séculos 16 e 17, sem que se alcance um entendimento a respeito das idéias calvinistas (MCGRATH, 2004, 12). É evidente que se não conhecermos (ao menos em parte, como diz McGtsht), a história da Europa e dos Estados Unidos, também não temos conhecimento consistente sobre nossa própria história. Daí se segue que grande parte da história do mundo ocidental está por ser ainda investigada e isso somente poderá acontecer se considerados, de forma honesta e com rigor acadêmico, os textos referentes à vida e obra dos reformadores cristãos e em especial a João Calvino.
     Ainda segundo McGrath (2004, p. 286) é impossível negar a fundamental contribuição de Calvino para o desenvolvimento da ciência moderna, pois as pesquisas têm revelado a grande diferença existente entre o número de pesquisadores protestantes e católicos, nos primeiros séculos posteriores à Reforma. Um estudo de Aphonse de Candolie revela uma curiosa estatística: durante o período de 1666 a 1883, numa população constituída de 60 % de católicos e 40% de protestantes, os membros da Academie das Sciences parisiense foi de 18,2 % de pesquisadores católicos e 81,8 % de pesquisadores protestantes. Assim,
embora os calvinistas fossem consideravelmente, uma minoria, na parte sul dos países baixos, durante o século XVI, a vasta maioria dos cientistas naturais dessa região foi proveniente desse grupo. A composição primitiva da Royal Society de Londres era dominada por puritanos. Como indicam sucessivas pesquisas, tanto as ciências físicas quanto as biológicas eram controladas por calvinistas durante os séculos 16 e 17.
     Tal contribuição deve-se primeiramente à ênfase dada por Calvino à forma como o mundo fora organizado pelo Criador: tanto o mundo físico quanto o corpo humano dão provas da sabedoria e do caráter de Deus (MCGRATH op. cit. p. 287), sendo que toda pesquisa resultaria em revelação do caráter do Criador conforme expresso nas suas obras.
     Também coube a outro cristão estudioso das Escrituras Sagradas a tarefa de organizar o que atualmente chamamos de Didática. João Amós Comênius, nascido em 1598, influenciado pelas idéias de Lutero e Calvino, escreveu a magistral Didática Magna, que tem influenciado educadores em diversas partes do mundo até os dias atuais. Uma das obras de Comênius foi traduzida, ainda durante sua vida, para o árabe, turco, persa e mongol. As idéias de Comênius espalharam-se e influenciaram outros educadores, cristãos ou não cristãos, resultando na criação de escolas paroquiais ou laicas ao longo de todo o ocidente.
     No Brasil, a influência de educadores cristãos reformados se fez sentir na criação de escolas ligadas às igrejas presbiterianas, batistas, metodistas e luteranas, desde meados do século XIX. Além disso, educadoras cristãs como a norte-americana Márcia Brown e a brasileira Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, ambas formadas nos Estados Unidos da América do Norte e, portanto, influenciadas pela pedagogia cristã norte-americana, são consideradas pioneiras por participarem da criação do sistema público de ensino do estado de São Paulo, o qual viria a tornar-se modelo para a escola pública nacional, a partir do governo de presidente Prudente de Morais.


V. CANAIS DA EDUCAÇÃO CRISTÃ
A.    ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL   

Origem da Escola Bíblica Dominical no Brasil
Os missionários escoceses Robert (1809/1888) e Sara Kalley (1825/1907) são considerados os fundadores da Escola Dominical no Brasil. Em 19 de agosto de 1855, na cidade imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro, eles dirigiram a primeira Escola Dominical em terras brasileiras. Sua audiência não era grande; apenas cinco crianças assistiram àquela aula. Mas foi suficiente para que seu trabalho florecesse e alcançasse os lugares mais retirados de nosso país. Essa mesma Escola Dominical deu origem à Igreja Congregacional no Brasil.
 Hoje, no local onde funcionou a primeira Escola Dominical do Brasil, acha-se instalado um colégio (Colégio Opção, R. Casemiro de Abreu segundo informações da Igreja Congregacional de Petrópolis). Mas ainda é possível ver o memorial que registra este tão singular momento do ensino da Palavra de Deus em nossa terra.
Houve, sim, reuniões de Escola Dominical antes de 1855, no Rio de Janeiro, porém, em caráter interno e no idioma inglês, entre os membros da comunidade americana.

História da Escola Dominical no Mundo
As origens da Escola Dominical remontam aos tempos bíblicos quando o Senhor ordenou ao seu povo Israel que ensinasse a Lei de geração a geração. Dessa forma a história do ensino bíblico descortina-se a partir dos dias de Moisés, passando pelos tempos dos reis, dos sacerdotes e dos profetas, de Esdras, do ministério terreno do Senhor Jesus e da Primitiva Igreja. Não fossem esses inícios tão longínquos, não teríamos hoje a Escola Dominical.
A Escola Dominical do nosso tempo nasceu de visão de um homem que, compadecido com as crianças de sua cidade, quis dar-lhes um novo e promissor horizonte. Como ficar insensível ante a situação daqueles meninos e meninas que, sem rumo, perambulavam pelas ruas de Gloucester? Nesta Cidade, localizada no Sul da Inglaterra, a delinqüência infantil era um problema que parecia insolúvel.
Aqueles menores roubavam, viciavam-se e eram viciados; achavam-se sempre envolvidos nos piores delitos.
É nesse momento tão difícil que o jornalista episcopal Robert Raikes entra em ação. Tinha ele 44 anos quando saiu pelas ruas a convidar os pequenos transgressores a que se reunissem todos os domingos para aprender a Palavra de Deus. Juntamente com o ensino religioso, ministrava-lhes Raikes várias matérias seculares: matemática, história e a língua materna o inglês.
Não demorou muito, e a escola de Raikes já era bem popular. Entretanto, a oposição não tardou a chegar. Muitos eram os que o acusavam de estar quebrantando domingo. Onde já se viu comprometer o dia do Senhor com esses moleques? Será que o Sr. Raikes não sabe que o domingo existe para ser consagrado a Deus?
Robert Raikes sabia-o muito bem. Ele também sabia que Deus é adorado através de nosso trabalho amoroso incondicional. Embora haja começado a trabalhar em 1780, foi somente em 1783, após três anos de oração, observações e experimentos, que Robert Raikes resolveu divulgar os resultados de sua obra pioneira.
No dia 3 de novembro de 1783, Raikes publica, em seu jornal, o que Deus operara e continuava a operar na vida daqueles meninos Gloucester. Eis porque a data foi escolhida como o dia da fundação da Escola Dominical.
 Mal sabia Raikes que estava lançando os fundamentos de uma obra espiritual que atravessaria os séculos e abarcaria o globo, chegando até nós, a ponto de ter hoje dezenas de milhões de alunos e professores, sendo a maior e mais poderosa agência de ensino da Palavra de Deus de que a Igreja dispõe.
Tornou-se a Escola Dominical tão importante, que já não podemos conceber uma igreja sem ela. É aqui onde aprendemos os rudimentos da fé e o valor de uma vida inteiramente consagrada ao serviço do Mestre.

B.   CULTO DE DOUTRINA
C.   SEMINÁRIOS DE CURTA DUAÇÃO
D.   CURSOS BÍBLICOS
E.   PALESTRAS, ETC.

VI. O CONTEÚDO E OS MÉTODOS NA EDUCAÇÃO CRISTÃ
1.    O QUE ENSINAR?
Breve resumo dos temas que devemos ensinar e proclamar:
 









a.    Porta – É o momento do início da vida cristã.
Devemos abordar assuntos como: Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus se fez homem, morreu, ressuscitou e é o Senhor. Arrependimento, morte da velha vida e começo da nova e poder de Deus para ser transformado.

b.    Caminho – são os assuntos que nos levam ao crescimento espiritual:

& A velha e a nova maneira de viver
- Impureza sexual
- Materialismo e avareza
- Inveja e ira
- Vocabulário pervertido
- Falsidade e mentira
- Vícios
- Devolver o mal por mal
- Injustiça

& O relacionamento entre irmãos
        - Amor fraternal
        - Comunhão
        - Serviço
        - Resolver conflitos   
& A família
         - O amor familiar
         - Criação de filhos no temor do Senhor
         - A conduta dos filhos
         - A presença de Cristo no lar
& O Espírito Santo
           - A obra do Espírito
           - O fruto do Espírito
           - Os dons do Espírito
           - O andar no Espírito
& A formação do caráter
           - Integridade
           - Humildade
           - Domínio próprio
           - Desenvolvimento da personalidade
& A igreja
           - Edificação e crescimento
           - As reuniões
           - O batismo
           - A ceia do Senhor
           - Dízimos e ofertas
           - Obediências as autoridades
           - A missão da igreja no mundo
           - O triunfo da igreja
& O relacionamento com Deus
         - Amar a Deus
         - A oração, fé e dependência de Deus
         - O louvor e a adoração
         - A leitura das Sagradas Escrituras
         - O jejum – a confiança na provisão de Deus
         - O conhecer a Deus
         - O culto a Deus

c.    Alvo – O propósito de Deus é ter uma família de muitos filhos semelhantes a Jesus.

2.    COMO ENSINAR?
OS TRÊS OBJETIVOS QUE DEVEMOS TER AO ENSINAR A PALAVRA DE DEUS:
1º Que conheçam a Palavra
2º Que vivam a Palavra
3º Que ensinem a Palavra

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